Bolivia! Onde o belo se envolve com a exploração...

A beleza do Lago Titicaca, vista da ilha do Sol.

Palácio Presidencial cidade La Paz (altitude 4650m)

Panoramica de La Paz

Estrada da morte, assim é conhecida na Bolivia "Trecho da Camino a los Yungas".

Alugámos um taxi já a cair de maduro e com um motorista extremamente animador... Hoje só serve para ciclistas com bicicletas de montanha ou carros ligeiros. Voltemos ao nosso motorista que serviu de guia e com o intuito de nos desmobilizar e regressarmos a La Paz. "Nesta curva o ano passado dois ciclistas dinamarqueses não viram a curva e com o nevoeiro foram a direito, mais ninguém os viu!". E foi desta lenga lenga que eu e o João Vicente, tivémos de desligar. Fomos vivendo a paisagem até Coroico, o desnível da estrada anda aproximadamente nos1200 metros desde La Paz, os precipícios vão até aos 600 metros.

Esta estrada foi construída nos anos trinta do século XX por prisioneiros paraguaios. Era a única estrada que ligava à capital. O carro que subia a estrada e quando aparecia um carro a descer, ambos mudavam invertendo os sentidos, para permitir ao que subia, se o motor fosse abaixo e resvalasse, tinha do seu lado a encosta, os que desciam só tinham a preocupação de manterem os rodados em segurança. Isto nunca evitou que todos os anos alguns carros se despenhassem nos precipícios provocando dezenas de mortes. Em 1983 um autocarro com 100 passageiros despenhou-se e nunca mais foi visto.

Hoje é uma atração turística para condutores de veículos de 2 rodas, elevam a adrenalina até à morte. Quem faz este trajecto apoiado por agências de turismo tem de assinar um termo de responsabilidade que liberta completamente agências e seguradoras. Mas a paisagem é sem dúvida muito bela...

Laguna Colorada, paisagem bela da BOLIVIA (2012)

Mas a cidade de Potosi e a mina de Cerro Rico marcaram e trouxeram recordações de tempos passados, de relações de trabalho duro em que o termo "comer pão que o diabo amassou" entra na perfeição e assenta como uma luva. A exploração mineira é feita em moldes cooperativos mas a sua produção é comprada por consórcios mineiros que estabelecem as cotações em mercado. Não vou abordar este tema porque a sua dimensão me transcende, embora o resultado seja sempre o mesmo. O poder subjuga o trabalho. Aquilo que eu vi, respirei e andei dentro das galerias que percorremos, disse-me tudo! Esta mina tem 17 níveis com acesso por elevador que desce aos 240 metros. A temperatura a que estivemos sujeitos durante as duas horas que percorremos os três níveis de galerias, rondaram os 37º a 40º.

Os mineiros tiram diariamente 40 toneladas de rocha e terra para extrairem alguma prata. A extração de prata em Potosi que está a 3967m de altitude começou em 1545 pelos ocupantes espanhóis O equipamento com que trabalham e as condições e meios que dispõem para movimentar o minério lembrou-me a obra literária de Emile Zola, "Germinal". São condições de escravatura!! Saí revoltado e triste, senti vergonha dos meus queixumes pelo transporte que nos foi amaçando os corpos. Daqui a alguns dias no conforto e comodidade da minha vida esquecerei o desconforto do mini-bus. Mas o Rolando, agora guia e os seus companheiros trabalhadores da mina Cerro Rico, continuarão a viver e a trabalhar em condições que desrespeitam toda a condição do ser humano.